como sempre
me contradigo
porque nada sei
e ando lendo o passado
a antiguidade fascina
por ser antiga
ao mesmo tempo
em que é o agora
cândido,
a positividade tóxica
atravessa os mares
na guerra nada é bom
constato
estou no mar agora
as ondas também
me dão golpes
tudo não pode ser bom
tudo e nada só podem ser
mentiras contadas
pelos poetas mortos
e os filósofos
ainda hoje
de nada sabem
todas as merdas contemporâneas
e também as delícias
cantadas
pelas mesmas poetas antigas
que nunca morreram
essas mulheres excelsas
que estremecem cidades
vacas selvagens
víboras loucas
ainda hoje
é isso o tempo
nunca uma linha
estudos poético-filosóficos
tive dificuldade de organizar as ideias com as informações que andei coletando, talvez por isso tenha sumido (risos). minha mente tem 75 abas abertas em 4 navegadores diferentes. estou eternamente lendo 3 livros enquanto como pipocas em cima de um trapézio balbuciando canções e inventando futuros imaginários. deve ser geracional, alguém tem de levar a culpa. enfim, a mente vagueia, tenha dó.
tentei ler a Ilíada esses tempos, inspirada pelo belíssimo livro “Também guardamos pedras aqui” da Luiza Romão. fracasso total. não é fácil ler a antiguidade sem muletas. peguei outras rotas, andei vendo vídeos no youtube, li Platão ou Sócrates. você sabia que estes senhores expulsam os poetas da república ideal? Aristóteles discorda, fofocas da antiguidade. também descobri que o caos da guerra de Tróia poderia não ter acontecido se não tivessem tirado Cassandra de louca, imagine uma profeta que tinha o dom de anunciar professias certeiras e a maldição de que ninguém nunca acreditaria nelas. poisé me lembra algo sobre crises climáticas a muito anunciadas entre outras crises, as cientistas que o digam.
acho tudo isso muito simbólico, o “pai” da filosofia ocidental colocando a razão acima de qualquer coisa, as emoções, as artes, o feminino (falo de magia, não de sexo ou gênero) expulsos da cidade, excluídos. o livro que dizem iniciar a literatura do ocidente, uma guerra que poderia ter sido impedida se tivessem dado ouvidos a uma mulher. seilá sabe, a história se repete em tantos níveis.
me deu vontade de ler outras poetas da antiguidade, devo seguir essa linha na próxima. por hoje finalizo com links e um poema do livro de Luiza.
links pra quem quiser aprofundar:
cassandra
entenda sis anunciar a desgraça
não é o mesmo que remediá-la
primeiro você dirá está podre
depois com perícia
raspara da casca a polpa gosmenta
o chorume se espalha
há fungos pré-históricos
há fungos abençoados
está podre repetirá didáticaeles continuarão a palitar os dedos dos pés
talvez você chore talvez arranque
do púbis ao queixo todos os pelos
uma mulher carbonizada no meio da avenida
talvez mostre relatórios do ibama
a fotografia aérea das crianças vietnamitas
fatos antes incontestáveis
fatos antes never moreeles continuarão a palitar os dedos dos pés
talvez te chamem de louca ou naive
são incontáveis as formas
de rebaixar uma mulher
what? você tá falando grego
está podre seus seios em chama
ainda assim
eles se lambuzarão- Luiza Romão
um convite
normalmente no finalzinho das edições coloco as “notas da autora” com alguns devaneios extras, mas hoje quero fazer um convite pra quem estiver lendo isso e estiver pelo Rio de Janeiro nessa quinta dia 20 de Junho. então, é que vai rolar o lançamento de “Submersa”, meu primeiro livro lançado pela editora Urutau esse ano.
vai ser no Oscar Selvagem Pub em Botafogo de 19:30 até 22:00. também vai rolar um mini sarau com a participação da Ana Sarracena e da Marina Magalhães, duas poetas que admiro e foram muito importantes pra vida dessa obra. depois das 22hrs o pub vai funcionar normalmente e tem karaoke pra quem quiser estender. vou amar encontrar algumas carinhas daqui por lá.
além disso, a partir de agora as imagens analógicas que já apareciam por aqui vão ser um oferecimento da minha amiga artista maravilhosa Rachel Castelli deem uma olhada no trabalho dela pelas redes @rscastelli . a fotógrafa que existe em mim está um pouco adormecida, o filme ta caro e eu já usei quase tudo do meu repertório rs. a expo de hoje foi uma homenagem aos minerais, pedras e destroços, essas coisas antigas por natureza.
bjbjbj,
Lara, passando para dar uma dica: comecei a ler o livro de poemas de Jarid Arraes e ele me lembrou (em alguma medida) o de Luiza Romão. O nome do livro é Um buraco com meu nome. Deixo a sugestão.
Parabéns, belos textos e poemas, estarei lá dia 20
Axé